top of page

Golpe do Falso Advogado: Como Proteger Sua Empresa dos Riscos Jurídicos e Financeiros no Ambiente Digital

  • Foto do escritor: Eduardo Caetano de Carvalho
    Eduardo Caetano de Carvalho
  • 28 de jul.
  • 8 min de leitura

A Nova Realidade dos Crimes Cibernéticos no Ambiente Empresarial


O golpe do falso advogado representa uma das ameaças mais sofisticadas enfrentadas por empresas brasileiras no ambiente digital contemporâneo. Esta modalidade de fraude PIX empresas tem causado prejuízos significativos a organizações de todos os portes, explorando a confiança depositada na figura do advogado e aproveitando-se das vulnerabilidades dos sistemas de pagamento instantâneo.


A crescente digitalização dos processos empresariais, acelerada pela pandemia, criou novas oportunidades para criminosos especializados em crimes cibernéticos advocacia. O sistema PIX, implementado pelo Banco Central em 2020, revolucionou as transações financeiras brasileiras, mas também facilitou a consumação de fraudes devido à instantaneidade e irreversibilidade das transferências.


Para empresários e gestores, compreender os mecanismos do golpe do falso advogado tornou-se questão de sobrevivência no mercado digital. A segurança digital empresarial não pode mais ser vista como custo operacional, mas como investimento estratégico fundamental para a proteção patrimonial e reputacional das organizações.


A sofisticação crescente destes golpes exige que empresas desenvolvam protocolos de verificação rigorosos e implementem medidas preventivas abrangentes. A negligência neste aspecto pode resultar não apenas em perdas financeiras diretas, mas também em responsabilidades legais e danos reputacionais irreparáveis que comprometem a sustentabilidade empresarial no longo prazo.



Compreendendo o Golpe do Falso Advogado: Modalidades e Técnicas Criminosas


O golpe do falso advogado caracteriza-se pela utilização indevida da identidade profissional de advogados para obter vantagens financeiras ilícitas. Segundo a cartilha elaborada pela Ordem dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo, esta fraude digital ocorre especialmente através do sistema PIX, explorando técnicas de engenharia social para persuadir vítimas a fornecer dados pessoais sensíveis.


Na advocacia, o golpe do falso advogado ocorre principalmente em virtude de demandas judiciais, pois os criminosos têm acesso aos dados públicos processuais inseridos nos sistemas eletrônicos do Poder Judiciário. Os golpistas entram em contato com clientes ou partes processuais, passando-se pelo advogado contratado, solicitando transferências PIX alegando necessidade de pagamento prévio para liberar supostos créditos processuais ou quitar custas judiciais urgentes.


As principais modalidades incluem invasão de WhatsApp do advogado, clonagem de aplicativos de mensagens, utilização de números telefônicos diferentes alegando problemas técnicos, e envio de mensagens fraudulentas por e-mail ou SMS que simulam comunicações legítimas de escritórios de advocacia. Estas comunicações frequentemente contêm links para páginas falsas destinadas a obter informações pessoais como senhas bancárias, chaves PIX e dados de contas correntes.

A engenharia social constitui o alicerce destes golpes, explorando emoções como confiança, urgência e autoridade. Os criminosos criam cenários plausíveis de emergência, alegando que demoras no pagamento podem resultar em prejuízos processuais, perda de prazos importantes ou bloqueio de valores em processos judiciais.


No contexto empresarial, a complexidade dos relacionamentos jurídicos facilita a ação dos criminosos. Empresas frequentemente mantêm múltiplos processos em andamento com diferentes escritórios, dificultando o controle detalhado sobre todos os desenvolvimentos processuais e criando oportunidades para inserção de solicitações fraudulentas que parecem legítimas.


A dimensão tecnológica do golpe do falso advogado merece atenção especial. Os criminosos utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas de clonagem de aplicativos de mensagens, criação de perfis falsos em redes sociais profissionais e até mesmo invasão de contas de e-mail para dar credibilidade às suas comunicações fraudulentas. Esta evolução tecnológica exige que as empresas desenvolvam contramedidas igualmente sofisticadas para proteger seus interesses.



Aspectos Legais e Responsabilidades no Ordenamento Jurídico Brasileiro


O ordenamento jurídico brasileiro estabelece múltiplas tipificações penais aplicáveis ao golpe do falso advogado. A Lei 12.737/2012, conhecida como "Lei Carolina Dieckmann", introduziu importantes modificações no Código Penal para tipificar delitos informáticos, incluindo a violação de dispositivo informático prevista no artigo 154-A e suas modalidades qualificadas.


O crime de estelionato, tipificado no artigo 171 do Código Penal, constitui a base da responsabilização criminal, especialmente quando configurada a obtenção de vantagem ilícita mediante fraude. A Lei 14.155/2021 agravou as penas para crimes patrimoniais praticados mediante fraude eletrônica, reconhecendo a maior gravidade e impacto social destes delitos no ambiente digital contemporâneo.


A responsabilidade civil no contexto do golpe do falso advogado envolve múltiplas dimensões que devem ser cuidadosamente analisadas pelas empresas. O Código Civil brasileiro, em seu artigo 927, estabelece o princípio geral da responsabilidade civil, segundo o qual aquele que causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo. No contexto dos crimes cibernéticos, esta responsabilidade pode recair sobre diferentes atores, incluindo instituições financeiras, prestadores de serviços de telecomunicações e até mesmo as próprias empresas vitimizadas.


A teoria do risco, amplamente aceita pela jurisprudência brasileira, estabelece que aquele que se beneficia de uma atividade deve responder pelos riscos a ela inerentes. No contexto bancário, esta teoria tem sido aplicada para responsabilizar instituições financeiras por falhas em seus sistemas de segurança que permitam a consumação de fraudes. O Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido que bancos devem ressarcir clientes por perdas decorrentes de falhas na segurança de seus sistemas, desde que comprovado o nexo causal entre a falha e o dano.


Para empresas, a aplicação da teoria do risco implica na necessidade de implementar medidas de segurança adequadas para proteger seus recursos e dados. A negligência na implementação destas medidas pode gerar responsabilidade civil perante terceiros prejudicados, especialmente quando a empresa atua como custodiante de recursos ou informações de clientes ou parceiros comerciais.


A Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018) introduziu importantes obrigações para empresas no que se refere ao tratamento e proteção de dados pessoais. No contexto do golpe do falso advogado, a LGPD é relevante tanto para a prevenção quanto para a resposta a incidentes de segurança. Empresas que coletam e processam dados pessoais têm a obrigação de implementar medidas técnicas e organizacionais adequadas para proteger estes dados contra acessos não autorizados, sob pena de sanções administrativas significativas.


O Mecanismo Especial de Devolução (MED) do PIX, implementado pelo Banco Central, permite que vítimas de fraudes solicitem a devolução de valores transferidos indevidamente, desde que o pedido seja registrado em até 80 dias da data da transação. Para empresas, o MED PIX representa uma importante ferramenta de recuperação de valores, mas sua eficácia depende da rapidez na identificação do golpe e no acionamento do mecanismo.



Medidas Preventivas e Boas Práticas para Proteção Empresarial


A implementação de medidas preventivas eficazes contra o golpe do falso advogado requer uma abordagem sistemática que combine elementos tecnológicos, procedimentais e educacionais. Para empresas, esta proteção digital deve ser vista não apenas como uma medida de segurança, mas como um investimento estratégico na sustentabilidade e reputação organizacional.


O estabelecimento de protocolos de verificação rigorosos constitui a primeira linha de defesa contra o golpe do falso advogado. Empresas devem implementar procedimentos padronizados que exijam múltiplas formas de confirmação antes da autorização de qualquer transferência financeira solicitada por comunicações eletrônicas. Estes protocolos devem incluir a obrigatoriedade de confirmação através de canais independentes, preferencialmente por meio de ligação telefônica para números previamente cadastrados e verificados.


A confirmação por e-mail oficial do escritório de advocacia também deve ser exigida, utilizando endereços eletrônicos previamente validados e constantes nos registros oficiais da empresa. A implementação de um sistema de dupla verificação, onde duas pessoas diferentes devem confirmar a autenticidade de solicitações financeiras, adiciona uma camada extra de segurança particularmente eficaz em organizações de médio e grande porte.


A educação continuada dos colaboradores representa um elemento fundamental na prevenção do golpe do falso advogado. Programas de treinamento devem abordar não apenas as características técnicas do golpe, mas também os aspectos psicológicos da engenharia social e as técnicas de manipulação utilizadas pelos criminosos. Estes programas devem incluir simulações práticas que permitam aos colaboradores experimentar situações similares às utilizadas pelos golpistas, desenvolvendo a capacidade de identificar sinais de alerta e responder adequadamente a tentativas de fraude.


A implementação de tecnologias de segurança avançadas pode significativamente reduzir a vulnerabilidade das empresas ao golpe do falso advogado. Sistemas de autenticação multifator para acesso a contas bancárias e sistemas financeiros criam barreiras adicionais que dificultam a consumação de fraudes. Soluções de monitoramento de comunicações eletrônicas podem auxiliar na identificação precoce de tentativas de golpe, utilizando algoritmos de inteligência artificial para analisar padrões de comunicação e identificar anomalias.

O monitoramento de transações financeiras permite a identificação precoce de atividades suspeitas e a resposta rápida a tentativas de golpe. Estes sistemas devem incluir alertas automáticos para transações que desviem dos padrões históricos da empresa ou que apresentem características típicas de fraudes. A definição de limites de transação baseados em análise de risco pode reduzir o impacto financeiro de eventuais golpes.



Procedimentos em Caso de Vitimização e Recuperação de Valores


Mesmo com a implementação de medidas preventivas robustas, empresas podem eventualmente se tornar vítimas do golpe do falso advogado. Nestes casos, a rapidez e adequação da resposta são fundamentais para minimizar prejuízos e maximizar as chances de recuperação de valores transferidos indevidamente.


O primeiro passo após a identificação de uma tentativa ou consumação do golpe do falso advogado é a preservação de evidências relacionadas ao incidente. Isto inclui a captura de telas (screenshots) de todas as conversas, o salvamento de e-mails e mensagens, a documentação de números telefônicos utilizados pelos criminosos e a preservação de comprovantes de transferências realizadas.


A comunicação imediata com a instituição financeira responsável pela conta de origem da transferência é crucial para acionar o Mecanismo Especial de Devolução do PIX. Esta comunicação deve ser feita preferencialmente através de canais oficiais da instituição e deve incluir todas as informações disponíveis sobre a transação fraudulenta.


O registro de Boletim de Ocorrência junto à autoridade policial competente deve ser realizado o mais rapidamente possível, preferencialmente no mesmo dia da identificação do golpe. Este registro é fundamental não apenas para fins de investigação criminal, mas também para comprovação do crime em eventuais procedimentos de recuperação de valores ou ações de responsabilização.


A comunicação com o escritório de advocacia legítimo cujo nome foi utilizado no golpe é importante para alertá-los sobre a situação e permitir que tomem medidas para proteger outros clientes. Esta comunicação também pode fornecer informações valiosas sobre outros casos similares e auxiliar na identificação dos criminosos.


Após as ações imediatas, empresas devem implementar medidas de contenção para evitar novos incidentes e facilitar a investigação do caso. Isto inclui a revisão e fortalecimento dos protocolos de segurança, a realização de auditoria completa das transações recentes e a implementação de monitoramento reforçado das comunicações eletrônicas.



A Importância da Assessoria Jurídica Preventiva


O golpe do falso advogado representa uma ameaça real e crescente para empresas de todos os portes no Brasil. A sofisticação crescente das técnicas utilizadas pelos criminosos, combinada com a rapidez e irreversibilidade das transações PIX, torna este tipo de fraude digital particularmente perigoso para o ambiente empresarial contemporâneo.


A proteção eficaz contra esta modalidade de crime requer uma abordagem multidisciplinar que combine conhecimento jurídico, consciência tecnológica e implementação de boas práticas de governança corporativa. Empresas que negligenciam estes aspectos não apenas se expõem a perdas financeiras diretas, mas também a riscos reputacionais e responsabilidades legais que podem comprometer sua sustentabilidade no longo prazo.


A complexidade do arcabouço legal brasileiro relacionado a crimes cibernéticos, responsabilidade civil e proteção de dados torna fundamental o acompanhamento jurídico especializado. A assessoria jurídica preventiva permite não apenas a implementação de medidas de proteção adequadas, mas também a preparação para resposta eficaz em caso de vitimização.


Profissionais especializados em direito digital e crimes cibernéticos podem auxiliar empresas na elaboração de políticas internas de segurança, treinamento de colaboradores, implementação de protocolos de verificação e desenvolvimento de planos de resposta a incidentes. Esta assessoria especializada representa um investimento estratégico na proteção patrimonial e reputacional da empresa.


A evolução constante das técnicas utilizadas pelos criminosos exige atualização contínua das medidas preventivas e dos conhecimentos sobre o tema. A manutenção de relacionamento próximo com assessoria jurídica especializada facilita esta atualização e garante que a empresa esteja sempre preparada para enfrentar as ameaças emergentes do ambiente digital.


Em um ambiente empresarial cada vez mais digitalizado, a segurança jurídica e tecnológica não pode ser vista como um custo, mas como um investimento fundamental na sustentabilidade dos negócios. A prevenção adequada do golpe do falso advogado é apenas um aspecto desta segurança mais ampla, mas sua importância não deve ser subestimada pelos gestores empresariais.


Empresários e gestores que reconhecem a importância desta proteção e buscam assessoria jurídica preventiva demonstram visão estratégica e responsabilidade corporativa. Esta postura proativa não apenas protege os interesses imediatos da empresa, mas também contribui para a construção de um ambiente empresarial mais seguro e confiável para todos os participantes do mercado.


Este artigo tem caráter educativo e não substitui a consulta a profissional jurídico qualificado para análise de casos específicos. Para orientações personalizadas sobre proteção contra golpes digitais e implementação de medidas preventivas adequadas à realidade de sua empresa, recomenda-se a busca por assessoria jurídica especializada.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação

© 2024 por Soares, Goulart & Caetano Advogados

  • Whatsapp
  • Instagram
  • LinkedIn Social Icon
  • Facebook
bottom of page